Flavor Flav é desligado do Public Enemy após controvérsia sobre show do grupo em comício político do Bernie Sanders; entenda

Por: Bruno Guerra

Um dos maiores grupos da cultura hip-hop, o Public Enemy enfrenta um momento crítico em sua história. Após o anúncio na semana passada de que Chuck D se apresentaria em comício do Bernie Sanders, pré-candidato à presidência norte-americana, sob o ato de Public Enemy Radio [nome que o coletivo usa para shows gratuitos e beneficentes] no domingo (1), Flavor Flav demonstrou boicote à ideia.

Na sexta-feira (28), o advogado Matthew Friendman do Flavor Flav mandou uma carta de 2 páginas para Sanders, acusando a campanha política dele de “usar a semelhança, imagem e marca registrada do artista” para promover uma manifestação, mesmo que Flavor Flav não “endosse nenhum político”.

Trechos do documento dizem coisas como: “embora Chuck esteja certamente livre para expressar sua visão política como achar melhor — sua voz fala apenas por ele, não por todo o Public Enemy”, “a performance planejada será feita apenas por Chuck D do Public Enemy, não será uma performance do Public Enemy. Quem realmente sabe o que o Public Enemy representa sabe o que acontece, não há Public Enemy sem Flavor Flav”, “Flav não endossou nenhum candidato político nesse ciclo de eleição. A divulgação contínua dessa narrativa grosseira enganadora, é no mínimo, descuidada e irresponsável, se não intencionalmente mentirosa”, “é lamentável que uma campanha política seja tão descuidada com a integridade artística de figuras tão idolatradas na cultura norte-americana”.

Confira abaixo a carta na íntegra divulgada com exclusividade pela Pitchfork:

Em resposta à carta, Chuck D, cabeça do grupo, mandou nota para Rolling Stone, acusando o Flavor de trabalhar apenas por interesse financeiro e não manifestar tanta energia para ajudar o Public Enemy em causas sociais quando necessário, dando prazo de 1 ano para ele entrar na linha, advertindo risco do artista poder ser convidado a se retirar do coletivo.

O advogado do Chuck D divulgou nota relatando: “do ponto de vista jurídico, Chuck pode se apresentar como Public Enemy se ele quiser; ele é o dono único da marca Public Enemy. Ele mesmo desenhou o logotipo em meados dos anos 80, ele também é um criador visionário e compositor principal do grupo, tendo escrito a maioria das linhas mais memoráveis do Flav”.

Pouco antes de realizar show na tarde de ontem com o Public Enemy Radio em Los Angeles junto de associados na campanha do Sanders, Chuck apareceu no Twitter para um grande desabafo. Após refletir sobre recentes problemas enfrentados por familiares, ele disse em uma série de tweets: “não há nenhum candidato que possa responder perguntas sobre gerações de 3 negros sofrendo vivendo em uma mesma casa. Se vocês não sabem, isso é um grande problema. Eu gosto de alguns aspectos do Bern (…) Odeio essa parada de cerimoniazinha, mas posso identificar metade dos problemas e ir adiante. Use sua mente e esteja pronto para lutar contra qualquer um que estiver no cargo [de presidente]. Levante a po*** dos seus rabos, faça de você importante onde VOCÊ vive. Isso não é vodka (…) Eu sou um artista politico de música que o mundo todo conhece, sou ouvido e visto fora da minha ARTE. Faço música apenas para fazer você tomar suas decisões e NÃO ser um robô em 2020. Eu não sou nenhuma celebridade. Eu não estou vendendo drinks. Eu impacto com arte e música, preste atenção, será bom que todos vocês americanos saibam que Anita Tijoux esteve aqui hoje. Eu apoiei a música dela por anos. Toquei no palco com ela. Presenciei ela batalhando em Santiago no Chile com uma multidão nas ruas pela reforma da edução. Saibam algo sobre esse mundo americanos”.

Após repercussão de tweets, ele complementou: “nota final: tem sido minha última gota há muito tempo. Não se trata de BERNIE com Flav… ele não sabe a diferença entre Barry Sanders [jogador de futebol americano] ou Bernie Sanders. FLAV se recusou a demonstrar apoio em um evento beneficente da ong Sankofa do Herry Belafonte após o Henry nos induzir ao Hall da Fama Rock & Roll […] Obviamente, eu entendo sua loucura depois de todo esse tempo maldito […] Falei com Bernie Sanders. Se tivesse um saco de grana, Flav estaria lá na frente e no centro. Ele NÃO faz shows beneficentes. Me processou no tribunal na primeira vez, e as coisas não foram adiante. Seu advogado me processou novamente, então agora que ele está em sua casa, é melhor achar uma CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. Eu ouvi que estou nos trendings, como se me importasse. Eu construí o Public Enemy Radio para fazer caridade e arrecadas fundos. Ele disse que nunca faria isso. Então após ele se recusou a fazer um show no Many Rivers Festival do Harry Belafonte em 2016 foi minha última tentativa. Eu construí o Enemy Radio para ficar longe dessa babaquice. O Herry de 93 anos de idade pode ir com seu rabo para nos induzir no Hall da Fama do Rock N Roll em 2013 com um monte de gente lá (muitos não tem noção disso), e ele não pode dar um pingo do seu tempo para retribuir essa honra no evento do Sankofa #Ingrato”.

Horas após grande desabafo do Chuck D, o Public Enemy anunciou o desligamento do Flavor Flav de atividades do grupo. “O Public Enemy e o Public Enemy Radio seguirão em frente sem o Flavor Flav. Agradecemos a ele por seus anos de serviço e desejamos-lhe felicidades.” O grupo reiterou que o Public Enemy Radio – uma ramificação liderada por Chuck D com DJ Lord, Jahi e S1Ws como afiliados – ainda se apresentaria no evento gratuito do Sanders.

Veja como foi isso:

Após anuncio de situação de posicionamento do Public Enemy, Flavor Flav apareceu em redes sociais para desabafar sobre a questão, declarando: “Chuck D, você está brincando comigo agora???? Por Bernie Sanders??? Você quer destruir algo que construímos ao longo de 35 anos POR POLÍTICA??? Tudo porque não quero apoiar um candidato? Eu estou muito desapontado com você e suas decisões Chuck. E Chuck D, eu não processei você na sexta, eu questionei o Bernie Sanders para corrigir sua campanha de marketing enganosa. Era disso que eu estava falando. Eu não sou seu empregado, sou seu parceiro, você não pode me demitir. Não há Public Enemy sem Flavor Flav, então vamos acertar isso Chuck. Além disso, Chuck D, eu não usou drogas como você está falando, e tenho estado limpo há 10 anos. Eu lutei contra o vício antes, e como milhões de outros americanos, conheço o grande número de vítimas disso. Chuck, você sabe bem disso”.

Embora tenha enfrentado mudanças em formação com o desligamento do Professor Griff nos anos 80 após controvérsia de declaração dele vista como “anti-semita”, o qual retornou ao grupo em 1998 e voltou a deixar coletivo, além do ingresso do Terminator X nos anos 90, o Public Enemy sempre contou com Flavor Flav em formação ao longo dos seus 35 anos de história.

No ano de 2017, após arrumar um novo empresário, o qual já não é parte mais da sua equipe, Flav entrou com um processo contra Public Enemy, acusando Chuck D de não repassar devidamente royalties por trabalhos. A ação foi considerada improcedente em janeiro de 2019 depois da equipe jurídica do rapper não cumprir o prazo de entrega de documentos solicitados no caso, embora o ex-empresário dele tenha recorrido da decisão, a qual atualmente está em estágio avançando no Tribunal de Apelações dos Estados Unidos.

Nomes como Kurtis Blow, entre outros, apareceram em redes sociais com apelo para que artistas possam resolver diferenças. Será que eles conseguirão?

Bruno Guerra Fundador do Rap 24 Horas & Editor do portal. Há mais de 10 anos anos produzo conteúdos na internet sobre a cultura hip-hop. Já geri diversas notórias páginas na internet relacionadas aos temas de rap e entretenimento.
Sair da versão mobile